domingo, 25 de julho de 2010

Dia do Perdão Universal

Há muito tempo, li um texto de que já não lembro a fonte. Mas falava de um homem que, amargurado pelas tristezas e provas da vida, foi procurar um sábio em busca de paz.
Ao chegar ao destino, começou a desfiar na frente do sábio todos os seus infortúnios: a perda da esposa, a derrocada financeira, os filhos que o haviam decepcionado e abandonado. Todos, desastres que aconteceram sem maiores explicações, deixando-o sem nada daquilo que tinha batalhado para conquistar. Finalmente, ele tinha desistido de buscar novos horizontes. "Deus foi duro demais comigo", disse.
Ao que o sábio respondeu: "Sim, Deus foi duro com você. Mas você foi ainda mais duro que Ele".

No Dia do Perdão Universal (que assinala também o início do Novo Ano Maia), essa é uma boa lição na qual pensar. Deixemos de procurar a pessoa que, à nossa volta, precisa mais de nosso perdão: ela está mais perto do que pensamos. Tantas vezes desperdiçamos oportunidades por achar que não estamos preparados, que não devemos ou não podemos nos jogar para a vida. Por achar que não somos ou não fomos suficientemente bons para as bênçãos que nos são oferecidas.

Deixemos de nos recriminar pelo que poderíamos ter feito em determinado momento; fizemos daquela maneira porque é o melhor que poderíamos ter feito com aquilo de que dispúnhamos em nosso íntimo. Utilizemos as experiências do passado não como lembranças recriminadores de culpa, mas sim como lições libertadoras de aprendizado.
Deixemos de ter medo de viver algo belo, por achar que aquilo um dia acabará: estaremos desperdiçando o bem mais precioso, o único que realmente existe - o dia de Hoje.

Hoje, decido deixar para trás todo o peso, todos os pensamentos inúteis de sofrimento imaginário. Decido aceitar o outro sem expectativas, mas compreendendo que o que ele me oferece é o que de melhor ele pode oferecer no momento. E assim, procuro construir um Hoje e um Amanhã mais bonitos, baseados no que realmente existe e no que a vida, essa Deusa generosa, pode trazer - sem me encarcerar em expectativas falsas criadas por mim mesma.

Que possamos cultivar, sempre que possível, a filosofia do perdão interno e da generosidade.

E sigamos caminhando, com a leveza do vento. E que bons ventos nos tragam um belo Ano Novo!
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(Dia do Perdão Universal - 25/07/2007)

sexta-feira, 30 de abril de 2010

Espelho d'água


"E um homem disse: Fala-nos do Autoconhecimento.
E O Profeta respondeu, dizendo:
Vossos corações conhecem, em silêncio, os segredos dos dias e das noites.
Mas vossos ouvidos têm sede de ouvir o saber de vossos corações.
Desejais conhecer, em palavras, o que sempre soubestes em pensamento.
Desejais tocar, com vossos dedos, o corpo desnudo de vossos sonhos. E é bom que assim seja.
A fonte oculta de vossa alma precisa brotar e correr a murmurar até o mar;
E assim seria revelado aos vossos olhos o tesouro de vossas profundezas infinitas.
Mas que não haja medida para vosso tesouro desconhecido;
E não deveis sondar as profundezas de vosso conhecimento com cajado e bordão.
Pois o Eu é um oceano imensurável e sem fronteiras.
Não dizei: 'Encontrei a verdade', mas sim: 'Encontrei uma verdade'.
Não dizei: 'Encontrei o caminho da alma'. Dizei: 'Encontrei a alma enquanto seguia meu caminho'.
Pois a alma segue todos os caminhos.
A alma não caminha sobre uma linha, nem cresce como um junco.
A alma desdobra-se, como um lótus de inúmeras pétalas."
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(Gibran Kahlil Gibran)

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Como Nasceram as Estrelas

"Pois é, todo mundo pensa que sempre houve no mundo estrelas pisca-pisca. Mas é erro. Antes os índios olhavam de noite para o céu escuro — e bem escuro estava esse céu. Um negror. Vou contar a história singela do nascimento das estrelas.

Era uma vez, no mês de janeiro, muitos índios. E ativos: caçavam, pescavam, guerreavam. Mas nas tabas não faziam coisa alguma: deitavam-se nas redes e dormiam roncando. E a comida? Só as mulheres cuidavam do preparo dela para terem todos o que comer.

Uma vez elas notaram que faltava milho no cesto para moer. Que fizeram as valentes mulheres? O seguinte: sem medo enfurnaram-se nas matas, sob um gostoso sol amarelo. As árvores rebrilhavam verdes e embaixo delas havia sombra e água fresca. Quando saíam de debaixo das copas encontravam o calor, bebiam no reino das águas dos riachos buliçosos. Mas sempre procurando milho, porque a fome era daquelas que as faziam comer folhas de árvores. Mas só encontravam espigazinhas murchas e sem graça.

— Vamos voltar e trazer conosco uns curumins. (Assim chamavam os índios as crianças.) Curumim dá sorte.

E deu mesmo. Os garotos pareciam adivinhar as coisas: foram retinho em frente e numa clareira da floresta — eis um milharal viçoso crescendo alto. As índias maravilhadas disseram: toca a colher tanta espiga. Mas os garotinhos também colheram muitas e fugiram das mães, voltando à taba e pedindo à avó que lhes fizesse um bolo de milho. A avó assim fez e os curumins se encheram de bolo, que logo se acabou. Só então tiveram medo das mães que reclamariam por eles comerem tanto.

Podiam esconder numa caverna a avó e o papagaio, porque os dois contariam tudo. Mas — e se as mães dessem falta da avó e do papagaio tagarela? Aí então chamaram os colibris para que amarrassem um cipó no topo do céu. Quando as índias voltaram, ficaram assustadas vendo os filhos subindo pelo ar. Resolveram, essas mães nervosas, subir atrás dos meninos e cortar o cipó embaixo deles.

Aconteceu uma coisa que só acontece quando a gente acredita: as mães caíram no chão, transformando-se em onças. Quanto aos curumins, como já não podiam voltar para a terra, ficaram no céu até hoje, transformados em gordas estrelas brilhantes.

Mas, quanto a mim, tenho a lhes dizer que as estrelas são mais do que curumins. Estrelas são os olhos de Deus vigiando para que corra tudo bem. Para sempre.

E, como se sabe, 'sempre' não acaba nunca."

(Trecho do livro "Como Nasceram as Estrelas", em que Clarice Lispector conta de seu jeito todo especial 12 lendas brasileiras.)

Feliz Dia do Índio!

sexta-feira, 26 de março de 2010

Amanhã, apague as luzes!

Neste sábado, das 20h30 às 21h30, o mundo todo está convidado a demonstrar coletivamente seu apoio às ações de combate ao aquecimento global. Em sua quarta edição, a Hora do Planeta pretende repetir o alerta de anos anteriores e mobilizar pessoas ao redor da Terra no aumento da consciência ambiental - neste ano, em ato especialmente simbólico após o fracasso das negociações da Cúpula do Clima realizada em Copenhague há três meses.

No ano passado, a adesão brasileira ao evento se traduziu no "apagão" proposital de 113 cidades, incluindo 13 capitais e diversos cartões postais do país, como o Cristo Redentor, o Congresso Nacional e o Teatro Amazonas. Quem sabe neste ano o movimento seja ainda maior, servindo para despertar a reflexão sobre várias pequenas atitudes do cotidiano e, de quebra, produzindo efeitos visuais tão belos como os do ano passado - alguns deles publicados neste site, que traz imagens de vários locais famosos durante a Hora do Planeta 2009. Clicando sobre as fotos, dá para ver como cada lugar "mudou de fachada" durante os 60 minutos que caracterizaram o movimento. Vale a pena ver... e se inspirar!

segunda-feira, 22 de março de 2010

70% de você

ArtMast/Stock Photos


Hoje comemora-se o Dia Mundial da Água, este recurso natural que, ao contrário do que todos aprendemos na escola, não é tão renovável assim. A junção de oxigênio e hidrogênio que forma aproximadamente 70% de nosso corpo e 3/4 da superfície do planeta será, segundo estudiosos, um dos grandes motivos de preocupação em um futuro próximo - de acordo com estimativas da UNESCO, mais da metade da população mundial sofrerá com a falta de água já a partir de 2025. A imensidão de mares, rios e cachoeiras que povoam nosso imaginário e os cenários especialmente nacionais nos afasta da percepção de que apenas 2,5% da água disponível na Terra é, efetivamente, própria para consumo humano. Essa falsa sensação de fartura se reflete nas atitudes da população: só a região da Grande São Paulo, por exemplo, despediça aproximadamente 10 m3 de água por segundo, o que daria para abastecer cerca de 3 milhões de pessoas diariamente. O consumo desenfreado faz com que seja necessário desviar recursos hídricos no interior do Estado e também do sul do Estado de Minas Gerais - o que brevemente deve causar problemas também ao abastecimento dessas regiões.

Por isso, é bom pensar bem enquanto se mantém a torneira aberta ao escovar os dentes, durante banhos com duração de mais de 15 minutos ou quando se opta por lavar a calçada com um jato de água ao invés de usar a vassoura. São recomendações que todo mundo já cansou de ouvir, mas que tornam-se obrigações nos dias de hoje, enquanto ainda há água para poupar. É simples, não demora e fará enorme diferença.

Segue uma lista de links bacanas com informação sobre o tema do Dia de hoje. Boa leitura e boa mudança de hábitos! ;)

Informações sobre a oferta de recursos e o consumo atual no planeta

10 medidas simples para poupar água no dia-a-dia

"Fatos e fotos" sobre a água ao redor do mundo

Consumo consciente: atuando além de fechar as torneiras

segunda-feira, 8 de março de 2010

8 de março

Queen of Cups/Stephanie Piu-Mun Law

A data é manjada e passível de várias discussões a respeito de sua pertinência, origem, distorções e interpretações. Ainda assim, achei que seria válido comentar o assunto por aqui... para além das manifestações cor-de-rosa ainda recorrentes ao dia, ou ao arquétipo de "mulher-polvo" que acabamos por incorporar atualmente, existe ainda uma porção de mistério muito particular na condição feminina - mistério esse que uma vida não é capaz de elucidar. Sintetizando as reflexões a respeito dessa vasta Missão, seguem algumas espirituosas palavras. E um feliz dia para todos e todas. :)

Aviso da lua que menstrua
Elisa Lucinda

Moço, cuidado com ela!
Há que se ter cautela com essa gente que menstrua...
Imagine uma cachoeira às avessas:
cada ato que faz, o corpo confessa.
Cuidado, moço
às vezes parece erva, parece hera.
Cuidado com essa gente que gera.
Essa gente que metamorfoseia. Metade legível, metade sereia.
Barriga cresce, explode humanidades
e ainda volta pro lugar que é o mesmo lugar.
Mas é outro lugar: aí é que está.
Cada palavra dita, antes de dizer, homem, reflita...
Sua boca maldita não sabe que cada palavra é ingrediente
que vai cair no mesmo planeta panela.
Cuidado com cada letra que manda pra ela!
Tá acostumada a viver por dentro
Transforma fato em elemento. A tudo refoga, ferve e frita.
Inda sangra tudo no próximo mês.
Cuidado moço, quando cê pensa que escapou, é que chegou a sua vez!
Porque sou muito sua amiga, é que estou falando na vera.
Conheço cada uma, além de ser uma delas...
Você que saiu da fresta dela.
Delicada força, quando voltar a ela:
Não vá sem ser convidado!
Ou sem os devidos cortejos... às vezes pela ponte de um beijo,
E já se alcança a cidade secreta. Atlântida perdida.
Outras vezes, várias medidas e mais se afasta dela.
Cuidado moço, por você ter uma cobra entre as pernas,
Cai na contradição de ser displicente
diante da própria serpente.
Ela é uma cobra de avental.
Não menospreze a meditação doméstica
É da poeira do cotidiano que se extraem filosofias.
Costurando, cozinhando. E você chega com a mão no bolso,
Julgando a arte do almoço... eca!
Você, que nem sabe onde está sua cueca!
Ah! Meu cão desejado,
Tão preocupado em rosnar, ladrar, latir...
Então esquece de morder devagar.
Esquece de saber curtir, dividir.
E, aí, se quer agredir, chama de vaca e galinha.
São duas dignas vizinhas do mundo daqui.
O que é que você pode falar da vaca?
O que você tem eu vou dizer e não se queixe:
Vaca é sua mãe. De leite.
Vaca e Galinha... ora, não ofende.
Enaltece, elogia.
Comparando rainha com rainha
Óvulo, ovo e leite.
Pensando que está xingando
Que está falando palavrão imundo...
Tá não homem.
Tá citando o início do mundo!

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Reciclagem de lixo eletrônico aproveita até último parafuso

Um bom exemplo de solução para um problema que promete assolar cada vez mais nossas vidas...

Monitores descartados no Cedir (Centro de Descarte e Reuso de Resíduos de Informática)

Juliana Carpanez - UOL Tecnologia

Se você está familiarizado com o conceito de reciclagem, já sabe que a coleta seletiva do lixo deve ser feita em latas com cores diferentes: verde (vidro), amarelo (metal), vermelho (plástico) e azul (papel). Apenas quatro divisões, no entanto, estão longe – muito longe -- de atender às necessidades da reciclagem de eletrônicos. Foi isso o que descobriram profissionais da Universidade de São Paulo (USP), após iniciar em dezembro de 2009 um projeto de coleta de lixo tecnológico. A iniciativa, ainda restrita à USP, está prevista para ser aberta ao público em 1º de abril.

No chamado Cedir (Centro de Descarte e Reuso de Resíduos de Informática), que conta com cinco funcionários e teve investimento inicial de R$ 250 mil, três técnicos trabalham para desmontar toneladas de equipamentos. Essas peças -- que vão desde cobiçadas placas com fios de ouro até parafusos -- serão utilizadas em computadores remanufaturados ou vendidas para empresas de reciclagem de materiais específicos.

Para isso, é importante fazer uma triagem daquilo que ainda funciona, além de separar os diferentes tipos de cabos, plásticos e metais, entre outros elementos que compõem um computador. As placas, por exemplo, têm diferentes quantidades de metais (alguns deles preciosos), o que torna seu valor de mercado variável. Já os cabos podem conter cobre, zinco, alumínio e até vidro, dependendo da função para a qual foram fabricados.

No meio desse lixo, o técnico de manutenção eletrônica André Rangel Souza monta computadores com peças usadas. “É difícil conseguir uma memória RAM de 1 GB funcionando. Mas posso chegar a essa mesma capacidade juntando quatro pentes de 256 MB”, exemplifica. Seu trabalho exige paciência. “Esse disco rígido está bom, mas falta a placa. Até encontrá-la, o HD vai ficar parado aqui, neste pilha”, explicou ao UOL Tecnologia. “Uma hora a gente encontra a placa certa."

Os PCs remanufaturados, que serão emprestados a ONGs até voltarem ao Cedir para o descarte, têm gravador de DVD, placa de rede, de vídeo, 120 GB de capacidade de armazenamento, 512 MB de RAM, monitor, teclado e mouse. Dez máquinas dessas já foram montadas no local e estão prontas para serem usadas em iniciativas como as de inclusão digital.

Aqueles que quiserem levar seus eletrônicos usados para o centro, a partir de 1º de abril, devem antes agendar a visita pelos telefones (11) 3091-6455 ou (11) 3091-6454 – os funcionários já respondem às dúvidas dos interessados pelo e-mail cedir.cce@usp.br. A coleta refere-se apenas ao lixo eletrônico de pessoas físicas; não serão aceitos equipamentos de empresas.

5 toneladas, R$ 1.200

A ideia da criação do centro de descarte surgiu depois que funcionários do Centro de Computação Eletrônica (CCE) da USP fizeram a coleta do lixo eletrônico existente dentro do próprio CCE, em meados de 2008. Na ocasião, os cerca de 200 funcionários do centro também levaram equipamentos de suas casas, e o resultado foram 5 toneladas de produtos descartados.
Quando ofereceram esse lixo para empresas de reciclagem, eles se assustaram ao descobrir a quantia paga por todo o montante: apenas R$ 1.200.

“Percebemos que havia algo errado nesse mercado e, em janeiro de 2009, cinco pesquisadores do MIT [Massachusetts Institute of Technology] vieram ao Brasil para nos ajudar a identificar o problema", explica Tereza Cristina Carvalho, diretora do CCE. "A questão é que as empresas de reciclagem trabalham com um único tipo de material. Se o foco dessa organização for metais preciosos, por exemplo, ela não vai se interessar em pagar por todo o plástico dos computadores descartados”, explicou.

Foi então que se pensou em montar um centro que separasse os componentes, para que eles fossem reutilizados e vendidos de forma independente. Tereza afirma que um computador desmontado pode valer de R$ 24 a R$ 40 (contra R$ 1,2 mil de 5 toneladas de equipamentos que não estavam adequadamente separados).

Quando o centro for aberto ao público, a estimativa é receber de 500 a 600 máquinas por mês, e o dinheiro arrecadado com a venda será usado para a manutenção do próprio Cedir.
Tamanho do problema A organização não governamental Greenpeace estima de 20 a 50 milhões de toneladas de lixo eletrônico são geradas no mundo a cada ano. Ainda de acordo com a ONG, o chamado e-lixo (e-waste, em inglês) responde hoje por 5% de todo o lixo sólido do mundo, quantia similar à das embalagens plásticas. Com a diferença de que, quando descartados de maneira inadequada, os eletrônicos podem ser mais nocivos.

Esses equipamentos contêm centenas de diferentes materiais – um celular, exemplifica o Greenpeace, tem de 500 a 1 mil componentes diferentes. Na composição de muitos deles já metais pesados, como mercúrio, cádmio e chumbo, que podem poluir o ambiente e prejudicar a saúde das pessoas. Para ficar longe do problema, muitos países ricos exportam seu lixo eletrônico para nações pobres, como indica este mapa.